Menstruação e desempenho físico

A menstruação sempre foi um tabu para a ciência do esporte, treinadores e atletas. Há poucas décadas, era preocupante o fato da mulher participar de competições ou treinar menstruada. Somente a partir de 1950, com a melhora dos produtos de higiene femininos (absorventes), esse quadro mudou. Embora existam muitas pesquisas relatando como o exercício afeta a menstruação, são menos conhecidos os que analisam como a menstruação e as outras fases do ciclo menstrual interferem na performance e quais as alterações que podem causar no potencial físico e psicológico, não esquecendo que elas são altamente individuais.Durante o ciclo menstrual ocorrem mudanças hormonais, a menos que a mulher esteja em contracepção, e isso tem efeitos definidos no desempenho físico (JUDY DALY E WENDY EY 1996).

O ciclo menstrual é dividido em fases. Segundo BÕCKLER (apud Weineck, 2000) um ciclo de 28 dias é dividido da seguinte maneira: Fase da menstruação ou fluxo (1º ao 4º dia). Fase pós-menstrual (5º ao 11ºdia). Fase intermenstrual (12º ao 22º dia). Fase pré-menstrual (23º ao 28º dia). Ele afirma que a performance pode variar de acordo com as fases do ciclo menstrual. Na Fase Pré-Menstrual, devido à influência de um aumento nos níveis de progesterona, o desempenho sofre uma redução. Já na Fase Pós-Menstrual, devido a crescente taxa de estrogênio e maior secreção de noradrenalina, observa-se uma melhora significativa na performance.

No período pré-menstrual há redução na capacidade de concentração e fadiga muscular e nervosa mais rápida (KEUL et al 1974). Assim como acontece com as fundistas, o rendimento no treinamento de força é diferente nas diversas fases do ciclo menstrual. Na fase estrogênica (pós-menstrual) o rendimento é melhor que na progestogênica (pré-menstrual) onde as atletas ficam irritadas e menos pacientes com os treinos (LEBRUN, 1995).

Em 1997 a Federação Internacional de Handebol registrou mais de 2,2 milhões de atletas do sexo feminino em mais de 100 paises. Em contraste com esse número, existe pouca literatura sobre os aspectos anatômicos, psicológicos e principalmente hormonais que afetam o desempenho das praticantes dessa modalidade. Esse fato chamou a atenção do Dr PETRA PLATEN membro do Institute Of Cardiologiy And Sport Medicine, da German Sport Universite. Ele fez um estudo analisando o desempenho no treino, através de testes específicos, nas diferentes fases do ciclo menstrual. Os resultados preliminares desse estudo indicaram que as atletas têm uma adaptação mais alta de força e resistência na fase pós-menstrual.

LEBRUM (1993), publicou uma revisão da literatura analisando os efeitos das fases do ciclo menstrual no desempenho atlético. A maioria dos achados relatou uma melhora na performance na fase pós-menstrual, com o inverso acontecendo na fase pré-menstrual. Porém verificou-se uma inconsistência nas pesquisas principalmente nas metodologias empregadas e na falta de concretização na determinação das diferentes fases do ciclo menstrual. Uma das pesquisas consistia numa entrevista com atletas onde 37-67% relataram que não percebiam nenhuma mudança significativa na performance em quaisquer fases do ciclo menstrual.

Um estudo interessante, publicado por JANSE et al (2001) analisou se havia mudanças nas características contrateis do músculo esquelético, medidas através de eletromiografia, durante as fases pré e pós-menstrual. De acordo com os resultados, não foram encontradas diferenças significativas em nenhuma função do músculo esquelético nas diferentes fases do ciclo.

DIBRIZZO et al (1991) mediram a força isocinética, em mulheres que menstruam normalmente, nas diferentes fases do ciclo menstrual, os resultados mostraram que não houve diferença significativa nos níveis de força em nenhuma das situações analisadas.

Os registros de medalhas de ouro e recordes olímpicos mostram que, estas conquistas ocorreram em todas as fases do ciclo menstrual, porém não se deve esperar que o desempenho seja sempre o mesmo, pois fatores hormonais e mesmo psicológicos afetam a performance.

As principais mudanças (prejuízos) ocorrem na fase pré-menstrual (LEBRUN, 1993; DALY e EY, 1993; KEUL
1974). Muitos treinadores, na hora de montar o planejamento, levam em consideração as flutuações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual e tentam adaptar o treinamento as essas mudanças. ZAKHAROV e GOMES (1992) descrevem a utilização de um mesociclo de treinamento, para atletas de esportes cíclicos, que leva em conta as variações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual (tabela1).

DURAÇÃO DO CICLO


Duração do ciclo
Etapa do ciclo
21-22
24-26
27-28
29-30
2-36
Carga
Menstrual
1-4
1-4
1-5
1-5
1-5
Média
Pós-menstrual
5-9
5-11
6-12
6-13
6-16
Alta
Ovulatório
10-12
12-14
13-15
14-16
17-19
Média
Pós-ovulatório
13-18
15-22
16-24
14-26
20-31
Alta
Pré-menstrual
19-22
13-26
25-28
27-30
32-36
Baixa

A maioria dos estudos relata uma melhor performance na fase pós-menstrual, e uma redução acontecendo na fase pré-menstrual, não esquecendo que as funções fisiológicas e a especialização desportiva são altamente individuais. Os treinadores que conhecem e aceitam essa hipótese, planejam os treinos respeitando as mudanças que ocorrem durante o ciclo menstrual. A literatura relata abordagens que enfocam a dificuldade na estruturação da preparação física desportiva da mulher, Porém, várias pesquisas já fundamentadas podem ajudar a planejar treinos de forma a controlar inúmeras variáveis, levando em consideração as flutuações hormonais, tais como: volume, intensidade, grau de dificuldade, tipo de combustível, estresse neural / psicológico / metabólico, entre outras. A determinação das mudanças e em que fase do ciclo isso acontece, são de grande valia para a classe desportiva, onde os treinadores adaptariam os treinos de forma a minimizar os prejuízos e maximizar os ganhos durante o planejamento. Podendo até agendar as competições para que coincidam com o período de melhor performance.

Creio que o principal problema, no caso da preparação física das mulheres, é que a maioria do planejamento é feita idêntica a dos homens. Muitos técnicos não consideram as mudanças que ocorrem durante o ciclo menstrual. Talvez porque as competições ocorram durante todas as fases do ciclo. Porém tal justificativa não é mais aceita diante das exigências da preparação física atual das grandes atletas, onde seus treinadores propõem uma periodização totalmente adaptada, levando em conta de forma integral todas as variáveis que influenciam na performance, incluindo claro, lógico: O ciclo mentrual.


Por Elke Oliveira
Graduada em Educação Física pela Universidade de Brasília.
Pós-graduada em Musculação e Treinamento de Força pela Gama Filho e em Fisiologia do Exercício pela Veiga de Almeida.
Membro do Gease
Coordenadora Academia Malhart
Personal trainer


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

DIBRIZZO, R., FORT, I.L., BROWN, B.T.I. Relationships among strength, endurance, weight and body fat during three stages of the menstrual cycle. J Sport Med Phys Fitness. 1991 Mar; 31(1):89-94.

JUDY, D. WENDY, E. Hormones and female athletic performance. Women"s Sport Foundation of Western Australia, Inc., Oct. 1996.

JANSE, X.A., BOOT, C.R., THOM, J.M., RUELL, P.A., THOMPSOM, M.W. The influence of menstrual cycle phase on skeletal muscle contractile characteristics in humans. J Physiol. 2000 Jan; 530(Pt 1): 161-6.

KEUL, J.; et al .: Heart rate and energy-vielding substrat in blood during long-lasting running. Eur J appl Phisiol. (1974), 279f.

LEBRUN, C.M. Effect of the different phases of the menstrual cycle and oral contraceptives on athletic performance. Sports Med. Mar 1993; 16(6):400.

LEBRUN, C.M., MCKENZIE, D.C., PRIOR, J.C., TAUNTON, J.E. Effects of menstrual cycle phase on athletic performance. Med. Sic. Sports Exerc. Mar 1995; 27(3): 437-44.

PLATEN, P. Interaction Between The Menstrual Cycle And The Training. Institute Of Cardiology And Sport Medicine, University Of Sport German ,2001. Artigo Obtido Via Web.DisponívelNaInternet.http:/www.eurohandball.com/ehh_files/banner/phase1_290301/PlatenabstractM edicalCongressowienNov2001. htm.

WEINECK, J.: Biologia do Esporte. Ed. Manole, São Paulo, 2000.

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