A importância do sono

O ser humano ávido a aproveitar todas as fases de sua existência, mesmo sem ter consciência, investe um terço de sua vida em dormir – cerca de 25 anos. Para alguns isso pode significar uma perda de tempo inestimável, como sintetizou o escritor de uma carta de adeus, atribuída ao colombiano, Gabriel García Márquez: “Dormiria pouco, sonharia mais,pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz”.

Engana-se quem pensa que dormindo menos aproveitará o máximo da vida. Com a redução das horas de sono o organismo inibe a produção de insulina (hormônio que retira o açúcar do sangue), além de elevar a quantidade de cortisol – o hormônio do estresse -, que tem efeitos contrários aos da insulina, fazendo com que aumente a taxa de glicose no sangue, o que pode levar a um estado pré-diabético, ou até mesmo, ao diabetes.

Em curto prazo, a falta de sono pode causar cansaço e sonolência durante o dia, irritabilidade, alterações repentinas de humor, perda de memória de fatos recentes, comprometimento da criatividade, redução da capacidade de planejar e executar, lentidão do raciocínio, desatenção e dificuldade de concentração. E em longo prazo os efeitos são ainda maiores, falta de vigor físico, envelhecimento precoce, diminuição do tônus muscular, comprometimento do sistema imunológico, tendência a desenvolver obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e gastro-intestinais e perda crônica da memória.

Segundo o Dr. Flávio Aloe, coordenador do Laboratório do Sono do Centro InterDepartamental para os estudos do sono do Hospital das Clínicas, dormir é tão vital quanto estar acordado. “Dormir pouco é menos alimento para a alma, não adianta praticar esportes e não ter uma boa noite de sono, uma coisa depende da outra. É necessário que a pessoa tenha oito horas de sono por dia”, diz ele.

Para entender como funciona a ação do sono no organismo, os especialistas dividem este período em várias fases:

FASE 1
Melatonina é liberada, induzindo o sono (sonolência);

FASE 2
Diminuem os ritmos cardíacos e respiratórios (sono leve), relaxam-se os músculos e cai a temperatura corporal;

FASE 3 e 4
Pico de liberação do hormônio GH (hormônio do crescimento) e da Leptina; cortisol começa (sono profundo) a ser liberado até atingir seu pico, no início de manhã;

FASE REM
Sigla em inglês para Movimento Rápido dos Olhos, é o pico da atividade cerebral, quando ocorrem os sonhos. O relaxamento muscular atinge o máximo, voltam a aumentar as freqüências cardíacas e respiratória;

Durante o sono acontece um processo de restauração do organismo, no qual se reduz o cansaço físico, acelera a produção de anticorpos contra infecções, produz o hormônio de crescimento nas crianças, garante a eliminação de gorduras, restringe a flacidez dos músculos e a fraqueza dos ossos, além de proporcionar relaxamento.

Segundo Aloe pode-se dizer que este período atua se fosse um relaxante muscular,por proporcionar descanso ao organismo de uma forma geral. “Isso não quer dizer que só dormir trará um relaxamento muscular”, explica.

Muito além de se sentir bem, ter uma boa noite de sono significa uma melhora na qualidade de vida do indivíduo, transformando sua vida num processo de ciclo virtuoso. Mas, quando esse ciclo se quebra em algum momento, as conseqüências podem ser desastrosas.

Conforme pesquisas cerca de 30% da população mundial sofre de algum distúrbio do sono. As causas são inúmeras, entre as mais comuns estão os hábitos irregulares de sono, como por exemplo, não respeitar a necessidade de dormir, o que pode levar à insônia noturna e sonolência diurna.

De acordo com o chefe do setor de Distúrbios de Sono da Universidade Federal do Estado de São Paulo – UNIFESP, Dr. Ademir Baptista Silva, isto vale para qualquer pessoa e o preparo físico de atletas não afasta os distúrbios do sono.

“No caso dos atletas, a atividade física atrasa o aparecimento dos sintomas de cansaço por razões óbvias e isto pode retardar o diagnóstico de doenças importantes. O atleta deve estar sempre atento ao seu desempenho, e verificar qualquer queda de rendimento como sinal de algum problema” esclarece o especialista.

Todos os tipos de distúrbios têm tratamento desde que seja feita uma avaliação médica. “A avaliação deve ser feita sempre que o desempenho diurno do indivíduo estiver insatisfatório. O dia seguinte é o melhor termômetro de uma noite mal dormida”, esclarece Baptista.

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