Sem dúvida nenhuma, o treinamento é a base do sucesso, seja ele desportivo ou estético. Entretanto, as várias linhas de planejamento se divergem e, muitas vezes, concepções errôneas expõem o atleta à risco de lesão, overtraining ou insucesso. No mesmo sentido, em praticantes de atividade física ocorre desânimo pela falta de resultados aparentes. Devido a esse fato, há necessidade do conhecimento amplo dos principais métodos de planificação de treino.
Um dos processos de montagem de treino mais popular é, sem dúvida, a periodização. Este conceito teve início na década de 50, tendo como principal defensor e também elaborador o russo L. P. MATVEEV (3),dentre os que defendem o uso da periodização, existem nomes de peso como KRAEMER, FLECK (1,2) e o romeno BOMPA.No entanto, existe uma outra corrente contra os preceitos da periodização, defendida pelo também russo VERKOSHANSKIJ (4).
Histórico da periodização
Antes de vermos as concepções da periodização, devemos ter em mente em que contexto se sucedeu sua formação. A periodização teve início na década de 50, quando havia necessidade de preparação física da esquadra nacional soviética para os jogos Olímpicos de Helsinky em 1952 (3). Até então, a base de planejamento de treino se baseava em fatores puramente empíricos. Como os atletas russos alcançaram resultados importantes em esportes que possuem boa publicidade, como natação e atletismo, isso suscitou a atenção de treinadores de outros países difundindo o método em todo o mundo.
A base científica da periodização
A periodização clássica se estabeleceu a partir de duas teorias: uma biológica e outra matemática. A primeira é a teoria da síndrome geral de adaptação ou síndrome do stress biológico (4,5) desenvolvida pelo endocrinologista Hans Selye em 1936 (4). Na verdade, essa teoria é base para todo e qualquer método de planejamento de um treino físico. Segundo ela, a adaptação se subdivide em fases, sendo elas: reação de alarme, fase de resistência, fase de compensação, podendo chegar ao estado exaustivo (overtraining). Resumidamente, La Rosa (5) define: "o estado de treinamento exerce influência direta sobre a resposta do organismo a um estímulo. Em contrapartida, as modificações na estrutura do treinamento permitem novos processos de adaptação invariáveis"(5).
Já a fundamentação matemática surge no momento que falamos de periodização linear. Como em toda metodologia, surgiu a necessidade de buscar uma base em ciências exatas, para quantificar e numerar o corpo humano, mecanizando-o. Nada mais que resquícios da Revolução Científica dos séculos XVI e XVII lideradas por Copérnico, Galileu, Descartes e Newton (6), que mesmo sendo contestada pelo pensamento sistêmico, ainda é um fenômeno da ciência fortemente presente.
A periodização linear possui essa denominação, pois parte de um sistema linear de progressão, ou seja, quanto maior for a intensidade, maior será o desempenho físico. Demonstrado na fórmula f(x) = x. em que f(x) seria o desempenho e x a intensidade. No gráfico veremos a idéia básica subentendida.
(Provavelmente, muitos lembrarão da matemática aprendida no colégio).
Entretanto, devemos lembrar que o volume diminui em relação ao avanço do treinamento físico, e muitos poderiam questionar que a fórmula estaria errada, pois a função estaria relacionada apenas uma variável x (intensidade) e deveria estar relacionado a duas variáveis diferentes, por exemplo, y (volume). Porém, a diminuição do volume é causa natural do aumento de intensidade o que fica claro quando utilizamos o modelo de periodização linear no treinamento de força. Vejamos: se um atleta inicia com um treino de 4 aparelhos tendo em média 20 repetições para cada aparelho, teremos 80 repetições totais de volume. Com a progressão do treinamento, o número de repetições cairá para que haja o aumento de intensidade.Vamos pensar neste caso hipotético para 10 repetições o que dará 40 repetições totais, simplesmente metade do volume utilizado inicialmente e que ocorreu devido, naturalmente, ao aumento da intensidade do treino.
Macro e microciclos
A periodização fracionou o treinamento em fases dando-as o nome de macrociclos, tornando o treinador em um verdadeiro vidente, logo que as fases e o tempo de cada será ditada por ele, logo no início da preparação física. Sem dúvida a sensibilidade do treinador aos aspectos diários e desenvolvimento do atleta se perde em um treino antecipado (sem as eventuais modificações necessárias, particularidades da individualidade biológica e por fim, seu papel de adaptação único). Outro aspecto, é que todo treino inicia com o volume alto e com o avanço do treinamento, há uma queda, devido à possibilidade de processos de lesão e overtraining. Entretanto, um estudo de um feroz defensor (Kramer) contradiz este aspecto. Neste estudo, comparou três volumes e tipos de treino em iniciantes. Um grupo faria 3 a 5 repetições em 4 séries, o segundo 9 a 11 repetições em três séries e o último grupo fazia 20 a 28 repetições com 2 séries. Conclusão: além do autor não verificar lesões em nenhum grupo ainda conclui que o grupo os grupos que trabalharam com menor volume (repetições x séries) conseguiram melhores resultados em ganhos de força e ganhos mais expressivos de hipertrofia (8). Muitos terão que repensar sobre o modelo básico de 15 repetições para iniciante.
Estudos atuais que contradizem o modelo de periodização no treinamento de força
Na verdade os estudos envolvendo a periodização fracassam quando são colocadas as metodologias aplicadas, porém está constatado que em nenhum momento a periodização teve melhor resultado como na periodização não-linear e o treinamento progressivo (7).
Conclusão
Sem dúvida a periodização teve papel fundamental para o desenvolvimento do treinamento desportivo. Entretanto, suas bases já não condizem com a atual conjuntura do esporte de alto nível3. Nem mesmo quando se verifica o aspecto de treinamento para a estética.
Contudo, muitos profissionais conseguem adaptar a periodização a sua realidade e aos conceitos atuais de fisiologia e treinamento com bons resultados (9). O importante é desenvolver com bases sólidas seu próprio modelo de planejamento de treino e não defender idéias apenas por serem ditadas por autores. O poder está apenas em nossa mão.
Por Diógenes Alves
Referências Bibliográficas
1.FLECK, STEVEN J. & KRAEMER, WLLIAM J. Fundamentos do treinamento de força muscular. Editora Artes Médicas, 1999.
2.WILMORE, JACK H.; COSTILL, DAVID L. - Fisiologia do esporte e do exercício. Editora Manole. 2001.
3.VERCHOSHANASKJI, YURY - Para uma teoria e metodologia científica do treinamento desportivo. A crise da concepção da periodização do treinamento no esporte de alto nível. Revista Digital - Buenos Aires - ano 6 - nº 6, 2001.
4.FIAMONCINI, RAFAELA LIBERALI; FIAMONCINI, RAFAEL EMERIN - O stress e a fadiga muscular: fatores que afetam a qualidade de vida dos indivíduos. Revista Digital - Buenos Aires - ano 9 - nº 66, 2003
5.LA ROSA, ARMANDO FORTALEZA - Treinamento Desportivo. Editora Phorte, 2001.
6.CAPRA, FRIJOF. A Teia da Vida: Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Editora Cultrix, 2001
7.AMERICAN COLLEGE - Progression Models in Resistance Training For Healthy Adults - Position Stand. Medicine & Science In Sports & Exercise, 2002.
8.KRAEMER, WILLIAM J.; et al - Muscular adaptations in response to three different resistance-training regimens: specificity of repetition maximum training zones. Eur. J. Appl Physiol. 2002.
9.SILVA, RENATO ANDRÉ DE SOUSA - Periodização apicada ao spinning-formato mesociclo. Artigo não publicado.
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