O que é a Celulite?
O ano era 1639, quando Peter Paul Rubens pintou o que era o ideal da beleza feminina na época, as Três Graças. Mulheres com excesso de peso com nítida presença de Celulite, que só o realismo, característica do período Barroco nas artes permitiu mostrar. O ideal de beleza no início do terceiro milênio, no entanto mudou e muito. A presença de tecido adiposo é pouco aceita e as irregularidades deste tecido, a Celulite, é o pavor das mulheres modernas. A Celulite, no entanto, o grande vilão da beleza feminina, está presente em 80% das mulheres ocidentais. Cada vez aparece mais cedo, atingindo mesmo jovens e adolescentes e não respeitando até as mulheres magras. Os fotógrafos modernos e diretores de cinema, sucedâneos dos antigos pintores realistas, não têm o mesmo ideal estético de Rubens e caracterizam a beleza feminina de hoje em tipos magros, atléticos e sem Celulite.
A Celulite se manifesta no tecido gorduroso que se encontra embaixo da pele. Em todo o corpo existe esta camada. A quantidade normal de tecido gorduroso no corpo é de mais ou menos 20% do peso do indivíduo. Quando ocorre aumento da quantidade do tecido gorduroso, passam a ocorrer alterações, com a compressão de vasos e projeção deste tecido para a pele, ocasionando as alterações conhecidas como Celulite. Entretanto, a Celulite não é apenas aumento do tecido gorduroso, porque senão ela existiria em homens gordos, o que não acontece. É, na verdade, uma soma de alterações, decorrentes sim do aumento de gordura, mas aonde vários fatores têm ação: como hormônios, alimentação, vida sedentária, circulação, tendência genética, tipo físico e outros.
Estágios da Celulite
A Celulite se apresenta em quatro estágios de evolução. Enquanto mostramos o que acontece em cada estágio aproveitaremos para falar sobre os mecanismos de formação de Celulite.
Condição Normal
Na condição normal o tecido gorduroso é ricamente irrigado, as células gordurosas são de tamanho e formas normais. Os vasos são eficientes e tem formato normal. Não existe edema e a Termografia (um exame que demonstra o grau de Celulite) é normal.
-Estágio 1
Acontece um aumento de volume das células do tecido gorduroso na região afetada ocasionado por acúmulo de gordura dentro da célula. Não existe alteração circulatória e dos tecidos de sustentação, apenas uma discreta dilatação das pequenas veias do tecido gorduroso. Não há sinais visíveis na pele e nem dor. Na Termografia pode aparecer o aspecto chamado “Moucheté” que representa aumento de temperatura provocada por edema e hiperpermeabilidade dos capilares sangüíneos.
Estágio 2
As células gordurosas ficam um pouco mais cheias de gordura, e as que ficam na parte mais profunda começam a sofrer o mesmo processo. Já aparece um certo grau de fibrose, que se piorar, começa a formar micronódulos na fase seguinte. O aumento do volume das células provoca alteração circulatória por provocar a compressão das microveias e vasos linfáticos. O sangue e a linfa (líquido aquoso que banha as células) ficam represados. Ocorre então um maior “inchaço” das células gordurosas e detritos tóxicos, que deveriam ser eliminados, começam a ficar acumulados. A ação hormonal normal da mulher retém líquidos, que piora ainda mais o inchaço. O uso de anticoncepcional e as gestações, ainda por ação hormonal, vão inchando o tecido e piorando as alterações. Na pele já é possível se observar irregularidades à palpação e ainda não existe dor. Na Termografia o aspecto “Moucheté” é mais característico aparecendo edema e estase sangüínea demonstrados por áreas de temperatura aumentada.
Estágio 3
As células continuam aumentando de volume por causa da contínua aquisição de gordura e edema. Ocorre uma desordenação do tecido e aparecimento dos nódulos que apesar de mais profundos, são vistos como irregularidades na superfície da pele, mesmo sem palpação. Começa a existir uma fibrose, que é o endurecimento do tecido de sustentação (onde estão as fibras) e a circulação fica ainda mais comprometida. Podem aparecer os vasinhos e microvarizes. A pele tem o aspecto parecido com “Casca de Laranja”. Ocorre a sensação de peso e cansaço nas pernas (Deve-se lembrar que a Celulite é relacionada com problemas circulatórios funcionais locais, e nesse estágio a circulação no tecido gorduroso já está com problemas). Na Termografia aparece o aspecto de “Pelle di Leopardo” que é a presença de inúmeras manchas termográficas, denotando a desorganização do tecido, com várias temperaturas e a presença de edema e estase venosa.
Estágio 4
O inchaço desordenado das células gordurosas é acentuado, o tecido de sustentação se torna mais endurecido (fibroesclerose) e a circulação local de retorno, venosa está muito comprometida. Nesse estágio, a Celulite é dura e a pele fica “lustrosa”, cheia de depressões, com aspecto acolchoado. As pernas ficam pesadas, inchadas, doloridas e a sensação de cansaço está freqüentemente presente, mesmo sem esforço. Na Termografia aparecem os aspectos anteriores já descritos e surgem os “Black Holes”, ou “Buracos Negros”, que são regiões de circulação diminuída, representando uma coalizão de vários micronódulos em macronódulos e a presença de significativa fibrose.
Localização da Celulite
A Celulite pode se localizar em várias regiões do corpo. Existe uma predileção pela região glútea, a região lateral da coxa, a face interna e posterior da coxa, o abdômen, a nuca, a parte posterior e lateral dos braços e a face interna dos joelhos, mas em pessoas predispostas pode atingir até mesmo os tornozelos.
Predisposição Genética Familiar
A Celulite não é uma doença, e sim uma característica do sexo feminino. A Celulite está para a mulher, assim como a calvície está para o homem. São características de gênero, associadas ao Hormônio. Assim como o hormônio masculino e as características genéticas determinam a calvície, os hormônios femininos e as características genéticas determinam a Celulite, não de maneira tão intensa, porque vai sofrer mais a influência do ambiente e do tipo de vida, mas também a genética está presente. A herança genética é muito importante na Celulite e tem que ser levada em conta. Podem-se herdar diferentes tipos de fatores que predispõe a ela. (produção de hormônios, tipo constitucional e até hábitos alimentares), mas isso não significa que se vai obrigatoriamente desenvolver o problema se alguém da família tem. Vamos supor que duas irmãs gêmeas idênticas, com predisposição genética para Celulite, sejam criadas por famílias diferentes. Uma família se preocupa em manter uma alimentação saudável e em fazer exercícios físicos regulares. A outra não dá importância para esses cuidados. A primeira gêmea tem probabilidade muito menor de desenvolver Celulite. Uma pessoa com tendência hereditária para desenvolver Celulite, que tenha vida sedentária e hábitos alimentares descuidados pode ter até mais Celulite do que outra com tendência maior, mas que se cuida.
Fatores Hormonais
Os hormônios femininos são os principais causadores de Celulite. Alterações da produção, uso de medicamentos com estes hormônios, desequilíbrio entre estrógeno e progesterona, hormônios das glândulas supra-renais, podem desencadear ou agravar a Celulite por vários mecanismos. Eles interferem no metabolismo das gorduras, na circulação linfática e venosa, facilitam a retenção de água e sal e, além disso, coordenam a deposição de gordura no abdome, quadril e coxas para dar ao seu corpo o aspecto feminino. Existe uma tendência, na mulher, a haver maior deposição de gorduras nas regiões do corpo onde a Celulite é mais freqüente. Mesmo pessoas com pouca quantidade de gordura total podem concentrá-las nessas regiões. Quando a mulher engorda, grande parcela vai para estas áreas, e, ainda pior, se engordar rapidamente a deposição é irregular e desordenada facilitando a formação de nódulos de Celulite. Ao emagrecer, os hormônios femininos dificultam a retirada de gorduras dessas áreas. Por essa razão muitas pessoas quando emagrecem perdem peso nos braços, rosto, tórax, pernas e músculos, mas não nas áreas de Celulite. Os tratamentos com lipolíticos e mesoterapia visam mobilizar as gorduras destas áreas específicas para que possam ser utilizadas como fonte de energia e consumidas. Mesmo pequenos distúrbios dessa complexa relação entre os hormônios sempre resultam em piora da Celulite. Se uma mulher tem Celulite, não significa sempre, que tenha desequilíbrio hormonal, porque, mesmo os hormônios femininos perfeitamente equilibrados podem provocar Celulite, quase como uma característica feminina secundária. Isto ocorre, porque as células gordurosas dessa pessoa têm uma sensibilidade aumentada aos hormônios, provocando então a deposição de gordura e a formação de Celulite.
Má Alimentação
Comer mais que o necessário, assim como dietas ricas em gorduras ou carboidratos ou maus hábitos alimentares aumentam a síntese e o armazenamento de gorduras, favorecendo a Celulite. Tomar pouca água e abusar do sal dificulta a troca de líquidos do organismo favorecendo a retenção de resíduos tóxicos do metabolismo celular (as células funcionam como uma fábrica que produz várias coisas úteis, mas esse trabalho todo produz um lixo- resíduo tóxico- que precisa ser retirado constantemente).
Vida Sedentária
A falta de exercícios físicos diminui muito o consumo de energia pelo corpo o que facilita as sobras alimentares que serão transformadas em gordura. Além disso, as células perdem a capacidade de produzir energia levando o organismo todo à ser mais apático, devagar. A “vida de antigamente” não tinha as facilidades que existem hoje como transporte fácil, eletrodomésticos, água encanada, etc. Uma mulher há não muitos anos atrás tinha afazeres domésticos que forçavam muito mais exercícios do que hoje, como tirar água do poço, ou andar para fazer suas obrigações, por exemplo. As facilidades modernas tornam obrigatória a realização de alguma atividade física extra para evitar o sedentarismo que é muito prejudicial para a saúde como um todo e não só para a harmonia corporal.
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