Leg press: devo fazer a fundo ou somente 90º?

É muito comum nas academias as pessoas se indagarem acerca da finalidade e objetivo dos exercícios de musculação, como por exemplo: “Que ângulo trabalha melhor o peitoral clavicular? 35o ou 45o?”, “Qual a melhor posição dos pés ao agachar? Abduzidos, paralelos ou aduzidos?”, “Devo executar stiff legged com os joelhos semi-fletidos ou extendidos? Estas e muitas outras questões são sempre lugar comum entre os praticantes de musculação.

Porém, estas questões não são suscitadas tão somente entre os leigos e atletas recreacionais. Elas também são motivo de discussão e controvérsia até mesmo entre os mais estudiosos do assunto. Dentro do meio acadêmico já foram publicados estudos  dirigidos à análise do movimento e seu comportamento em diferentes situações, como por exemplo, o deslocamento dos atletas de natação no meio liquido.

Neste trabalho procuraremos, a luz da ciência, mais especificamente dos princípios da biomecânica, propor uma problemática semelhante as citadas acima e tentar estabelecer uma solução utilizando um ou mais métodos de medição em biomecânica do esporte.

Há uma dúvida freqüente nas academias de musculação acerca de um determinado exercício para fortalecer os músculos da coxa, especialmente o quadríceps, cuja execução se dá num aparelho denominado Leg Press 45o. A questão é a seguinte: Deve-se executar o exercício em Leg Press 45o com plena descida, utilizando toda a amplitude articular possível, ou para efeito de melhor solicitação do quadríceps, executar uma descida de apenas 90o (ângulo descrito entre a coxa e a perna)?

O Leg Press 45o é uma maquina de mecânica extremamente simples. Consiste de uma armação em metal forjado, com uma plataforma em um ângulo de 45o em relação ao solo, onde há espaço para se adicionar sobrecarga, normalmente na forma de anilhas. Esta plataforma desce de encontro ao executante, que se encontra sentado num banco cujo encosto também, na grande maioria, é ajustável. A pergunta é a seguinte: Em se tratando o Leg Press 45o um aparelho utilizado basicamente para se trabalhar a musculatura do quadríceps, qual o melhor aproveitamento? Uma descida completa da plataforma, ou simplesmente executar a descida até os 90o?

O grande motor primário da execução do exercício em Leg Press45 º é, sem dúvida, o quadríceps, auxiliado pelo glúteo máximo e pelos ísquio tibiais, que também podem ser solicitados intensamente, com os pés posicionados no alto da plataforma.

Há diversas possibilidades de posição dos pés na plataforma, interferindo significativamente no recrutamento dos grupos musculares da coxa, entretanto iremos nos deter na analise do movimento com os pés posicionados no ponto central da plataforma, afastados um do outro na medida do diâmetro da cintura escapular.

O quadríceps trabalha a maior parte da execução, atuando na força excêntrica e concêntrica, porém ao ultrapassar o ângulo de 90o do fêmur em relação a tíbia e fíbula, ele sofre grande estiramento  que aumenta proporcionalmente a medida em que se acentua a descida. A partir deste ponto, o quadríceps começa a perder vantagem mecânica, e o glúteo e os ísquios-tibiais passam a receber mais solicitação.

O grande dilema é que, uma vez que se ultrapasse os 90o da coxa em relação à perna,

não será possível utilizar tanta sobrecarga, pois os quadríceps já não conseguirão alavancar o retorno a posição inicial depois de uma descida muito profunda. Como quantificar então qual seria a melhor utilização mecânica nesta situação? Utilizar uma sobrecarga reduzida, e proporcionar ao quadríceps um maior estiramento ou utilizar  sobrecarga mais elevada para maior efeito de estímulo neuro-muscular?

              A cinemetria, como o próprio nome sugere, é a medição do movimento, e consiste em registro de imagens do movimento esportivo e sua posterior reconstrução respeitando os eixos articulares do atleta, demarcados por pontos baseados no modelo antropométrico.

As variáveis que poderiam ser quantificadas com base no método da cinemetria, para a nossa analise, seriam a angulação dos pés em relação a plataforma, o ângulo descrito pela plataforma em relação ao solo, ângulo de projeção dos joelhos e calculo da força vetorial dispersa na articulação do joelho, bem como correlação entre os pontos fixos da alavanca formada pelo conjunto de pélvis, joelhos e pés.

Através do registro das imagens com câmeras de vídeo posicionadas ao lado, sobre e atrás do aparelho, a posterior digitalização destas informações, teríamos uma imagem tridimensional fidedigna  do movimento, que seria fragmentado e minuciosamente estudado.

              Este método consiste em quantificar as pressões exercidas nas superfícies de contato, como por exemplo, a forca plantar que é submetida durante um determinado movimento. Estas pressões são registradas através de sensores previamente colocados em locais onde haverá contato com o atleta, por exemplo, a distribuição da força nos pés do atleta.

              Esta força é medida em função da variação dinâmica da força e a reação da plataforma de apoio. Esta analise, pode revelar onde se localiza a maior pressão um pé de um atleta, contribuindo para construção de calcados mais adequados e pisos apropriados para a pratica de diferentes modalidades esportivas.

              Na nossa situação em questão, poderíamos utilizar também da dinamometria como método de medição das forças envolvidas nos diferentes momentos da execução do exercício em Leg Press 45o.

              Através da medição da pressão em diferentes níveis desta execução, poderíamos estabelecer um gráfico matemático onde analisaríamos em qual nível se encontraria a maior dificuldade.

              A eletromiografia (EMG) é o método que tem como característica medir atividade elétrica nos grupos musculares. Existe uma relação estreita entre este método e a analise cinesiológica, que deve ser realizada previamente a fim de se determinar quais os grupos que serão submetidos a EMG.

              Os sinais elétricos são captados através de eletrodos, do tipo agulha, que são colocados nos pontos específicos onde se deseja pesquisar a atividade elétrica. Estes sinais são decodificados para um computador que irá imprimi-los na forma de escalas.

              Poderíamos lançar mão também deste recurso como forma de elucidar nosso problema: através da colocação de eletrodos na musculatura do quadríceps, glúteo máximo, adutor magno e ísquio-tibiais, teríamos um retrato da atividade muscular destes grupamentos durante todas as fases da execução, bem como podendo estabelecer uma analise comparativa da descida plena com menor sobrecarga frente à descida parcial, com sobrecarga mais elevada, quantificando qual destas situações exigiria maior atividade muscular e em quais grupamentos.

               Dos três métodos citados para resolução do problema, o que parece mais adequado para ser empregado é o EMG, porém a própria International Society Electrophisiologyand Kinesiology, ISEK (1999) determina que devam ser utilizados mais de um método para avaliação em biomecânica, sincronizando os resultados afim de se obter a resposta mais fiel.

              Esta resposta precisa só será efetivamente alcançada depois da realização exaustiva de vários testes, aliada a confrontação e comparação destes testes e registros.

Fontes bibliográficas

·         DELAVIER, Fréderic. Guia dos Movimentos da Musculação – abordagem Anatômica . São Paulo: Manole, 2000.

·         REVISTA BRASILEIRA DE BIOMECÂNICA,. Métodos de Medição em Biomecânica  do Esporte . São Paulo: Editora estação Liberdade, Maio de 2002

·         EVERETT, Aaberg, Musculação: biomecânica e treinamento. São Paulo: Manole, 2001

·         Site www.ExRx.net

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