Sibutramina é uma amina terciária que sofre desmetilação rápida ao ser ingerida por animais ou seres humanos e vem sendo usada para o tratamento da obesidade. A perda do radical metil origina o Metabólito 1, que é uma amina secundária. A seguir forma-se o Metabólito 2, que é uma amina primária e ambos com atividade farmacológica.
A Sibutramina age inibindo a recaptação de noradrenalina, entretanto, seus metabólitos ativos (Metabólito1 e Metabólito2) também é inibida a recaptação de noradrenalina e serotonina. Este fato diferencia claramente a Sibutramina de outras substâncias causadoras de perda de peso como a D-fenfluramina (na qual há predomínio da liberação de 5-HT) e a D-anfetamina (predominantemente um liberador de dopamina e noradrenalina). Levando em conta o perfil citado, poder-se-ia esperar que a Sibutramina tivesse propriedades antidepressivas. Entretanto, ao mesmo tempo em que se constatou a ausência de ação nos quadros depressivos, observou-se que a substância produz importante perda de peso nos pacientes deprimidos. Atualmente, já existem de diversos trabalhos clínicos esclarecendo os mecanismos envolvidos na ação da Sibutramina como redutor de peso.
Comportamento alimentar
Em laboratório, a Sibutramina, em administração aguda, reduziu, de forma dose-dependente, a ingestão alimentar de ratos magros em fase de crescimento, mostrando uma inibição da ingestão na dose média de 5-8 mg/kg. A substância também reduziu a ingestão em ratos Zucher geneticamente magros e obesos, como também em ratos tornados obesos graças à dieta rica em gorduras. Como era esperado, os metabólitos M1 e M2 demonstraram a mesma propriedade, também dose-dependente, e tiveram uma potência aproximadamente igual à da Sibutramina.
A resposta à Sibutramina difere daquela observada com as anfetaminas (femproporex e anfepramona), pois estas levam também a uma redução do volume ingerido, mas as fases de alimentação, descanso e auto-limpeza são substituídas por uma hiperatividade motora. Isto mostra que as anfetaminas diminuem o apetite através de uma desorganização da sequência normal da saciedade.
Seu mecanismo de ação justifica a inclusão da Sibutramina na categoria dos medicamentos inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina. Desta forma, a Sibutramina se diferencia claramente das outras categorias de agentes capazes de reduzir peso que são:
- agentes simpatomiméticos;
- agentes liberadores de serotonina;
- inibidores seletivos da recaptação de serotonina.
Eliminação
Após a bio transformação hepática, os metabólitos são eliminados, preferencialmente na urina, sendo a relação urina/fezes cerca de 10/1.
Em casos de insuficiência hepática leve ou moderada foram observados aumentos de 24% na biodisponibilidade dos metabólitos Me1 e Me2. Esta pequena diferença não parece trazer implicações clínicas, mas não se recomenda a adminstração de Sibutramina em pacientes com insuficiência hepática grave 2.
Eficácia clínica
Identificada a ação da Sibutramina sobre a recaptação de serotonina e noradrenalina em laboratório, havia razões para creditar à molécula uma atividade antidepressiva. A administração em animais e, posteriormente, em seres humanos, não confirmou a ação antidepressiva mas tornou evidente a influência do fármaco no controle da ingestão calórica, via aumento da saciedade. Há diversos trabalhos clínicos de tipo comparativo, controlado com placebo, demonstrando que a Sibutramina reduz o peso em excesso através de um mecanismo específico de estímulo do centro da saciedade.
Indicações
Sibutramina é indicado para redução do peso, no tratamento da obesidade, e deve ser usado em conjunto com dieta e exercícios, como parte de um programa de controle de peso, desde que a orientação alimentar e a atividade física não sejam suficientes para atingir o objetivo clínico.
Efeitos colaterais principais
As seguintes reações adversas ocorreram com frequência igual ou superior a 1%, em estudos clínicos de pacientes obesos sob tratamento com Sibutramina e foram estatisticamente significantes, em comparação com placebo: dor de cabeça, secura da boca, insônia, dor nas costas, vasodilatação, taquicardia, palpitações, anorexia, constipação, aumento do apetite, náuseas, dispepsia, vertigem, parestesia, dispneia, sudorese, alteração do paladar e dismenorreia. A maioria destes eventos diminuiu de intensidade e frequência com o tempo e, geralmente, não houve necessidade de interromper a medicação.
Infecções e eventos com os quais podem estar relacionadas, tais como resfriado comum, sinusite e doenças do aparelho auditivo, foram, com significância estatística, mais frequentes em pacientes tratados com Sibutramina do que com placebo. Tais eventos tiveram, de forma geral, intensidade leve ou moderada e duração limitada, não requerendo interrupção prematura do tratamento e não foram associados a qualquer alteração na contagem leucocitária.
Precauções
Idade
Sibutramina não é recomendado para crianças ou jovens de até 18 anos e também para idosos com mais de 65 anos devido a inexistência de estudos clínicos nestes grupos etários.
Uso na gravidez e lactação
Embora os estudos em animais não tenham sugerido potencial de teratogenicidade, não há segurança no uso do produto durante a gravidez. Não se sabe se a Sibutramina é excretada no leite materno. Portanto, o uso deste produto deve ser evitado em mulheres lactantes. Mulheres em idade procriativa, ao iniciar o tratamento com Sibutramina, devem usar recursos contraceptivos.
Potencial de abuso
Acredita-se que os efeitos estimulantes da dopamina sobre o SNC sejam responsáveis pela tendência ao uso indevido (abuso) das anfetaminas e substâncias semelhantes. A Sibutramina não estimula a liberação de dopamina nas terminações nervosas e tem efeito muito discreto como inibidora da recaptação deste neurotransmissor, mesmo com o emprego de doses elevadas.
Os diferentes estudos clínicos não registram o aparecimento de sintomas da abstinência, não havendo necessidade de interrupção gradual do uso. Desta forma, os dados farmacológicos e clínicos sugerem que a Sibutramina não tem potencial de abuso.
Uso em cardiopatas
A Sibutramina não foi avaliado em pacientes com doenças cardíacas ou conorárias e deve ser usado com cautela nestes pacientes. O seu emprego em indivíduos sem cardiopatia causou, no pulso, um aumento aproximado de 6 batimentos por minuto. Os níveis de pressão arterial tiveram aumentos médios da pressão sistólica ou diastólica de cerca de 4 mmHg durante o tratamento com Sibutramina.
Em pacientes com hipertensão arterial controlada, o uso de Sibutramina não se associou a maiores aumentos dos valores da pressão. Todavia, aconselha-se cuidadoso acompanhamento clínico se a Sibutramina for empregada para redução de peso em pacientes também portadores de hipertensão arterial2.
Outros
Sibutramina é um inibidor da recaptação de monoaminas e não deve ser usado concomitante com inibidores da monoaminoxidase (IMAOs). Deve haver pelo menos duas semanas de intervalo após a interrupção dos IMAOs antes do início do tratamento, O tratamento com IMAOs não deve ser iniciado dentro das duas semanas posteriores à interrupção do tratamento com Sibutramina.
Cautela nos pacientes nefropatas
Apesar de terem sido relatados somente três casos de convulsão em 3244 indivíduos que receberam Sibutramina durante a evolução clínica, este deve ser usado com cuidado em pacientes com história de epilepsia ou convulsão e deve ser descontinuado em qualquer paciente que apresente convulsões durante o tratamento.
Embora a Sibutramina não afete a performance psicomotora e cognitiva em voluntários sadios, qualquer fármaco que tenha ação no SNC pode prejudicar julgamentos, pensamentos ou habilidade motora. Por estes motivos pacientes deverão ter cautela na condução de veículos motorizados e na operação de maquinários.
Contra-indicações
A Sibutramina não deve ser prescrita nas seguintes condições:
- pacientes com hipersensibilidade conhecida a esta substância ou a qualquer outro componente da fórmula;
- antecedentes de anorexia nervosa ou bulimia;
- conhecimento ou suspeita de gravidez;
- durante a lactação.
Fonte: ABESO – Associação Brasileira de Estudos para a Obesidade
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