Nem Tudo Se Resume a "Intensidade"

Costumo dizer muito essa frase: “Nem tudo se resume a intensidade”, levando em consideração a comum idéia de que treino intenso é aquele onde cargas altas são erguidas. O próprio conceito de intensidade é distorcido no meio da atividade física. Intensidade está muito mais relacionada a percepção de esforço dentro da sessão de treino do que propriamente ao quanto consegui erguer de peso nos exercícios realizados.

Os mesmos indivíduos que erguem vários quilos na academia são os mesmos que choram (algumas vezes literalmente) com menos da metade do peso quando seus pontos fracos são expostos. São os famosos indivíduos compensadores.

Indivíduos compensadores são aqueles que sacrificam bons padrões de movimentos com padrões falhos afim de impor mais intensidade. Em outras palavras, executam mal pra poder colocar mais carga ou executar por mais tempo (em geral mais carga).

Resumindo, grandes cargas adicionadas a técnicas mal executadas são risco e fatalmente vão levar a lesões. Acredito que boa parte dos que lerem este artigo vão se lembrar da dor no ombro que sentiram após aquelas intermináveis séries de desenvolvimento, ou das dores no quadril ou joelho após o pesado “treino de perna”.
Nada contra cargas altas, pelo contrário, sou fã de treinos “intensos”, desde que dentro de padrões minimamente corretos. Nem culpo os adeptos da musculação, o meio é pesado! Somos incentivados principalmente pelo meio a trabalhar cada vez com mais carga, coisas como “você tem que aumentar a carga a cada treino pra poder ter efeito”.

O pior é que isso vai se tornando um ciclo vicioso, cada vez mais bons padrões vão sendo substituídos por padrões ruins e o corpo vai se acostumando a essa realidade. E como dá trabalho o resgate de bons padrões! Primeiro porque não querem diminuir suas cargas, por razões óbvias do contexto, segundo porque pode ser muito demorado e por vezes mais doloroso do que os treinos a que estava acostumado.

Nem sempre tive essa concepção do que é realmente intensidade, e por algumas vezes já me prejudiquei pensando assim, tanto ao me machucar treinando mal, quanto ao machucar meus atletas ao os expor a cargas elevadas sem técnica (mobilidade e estabilidade) adequados. E por muitas vezes tentei me isentar da responsabilidade. Hoje se alguém se machuca no meu espaço de trabalho a culpa é minha, independente da situação.

Pra terminar, tente experimentar em você, como desafio, caso tenha se considerado um indivíduo compensador, exercícios que imponham menores cargas (nem por isso menos intensos), como o agachamento livre unilateral ou supino unilateral e observe como você se sai, se terá dificuldades para realizar com boa técnica e amplitude. Você poderá descobrir que não é tão forte (outra nomenclatura distorcida pelo meio) assim mas ao mesmo tempo verá um novo horizonte em seus treinos.

Treine FORTE! Seja ESPERTO!


Por Rafael Felix

Um comentário:

  1. Ótima matéria vou compartilhar o máximo possível acho muito importante este ponto de vista.

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